Esta será a "cara" dos PCs daqui por diante |
Analisar um sistema operacional é uma empreitada peculiar, porque as
pessoas não usam sistemas operacionais. Elas usam aplicativos, e o
sistema deve ser o mais transparente possível, servido apenas como um
trampolim para eles. E com o uso cada vez maior da nuvem e de
dispositivos móveis, a idéia de um sistema operacional limitado a uma
única plataforma (o PC) é menos relevante hoje do que alguns anos atrás.
Hoje em dia, em vez de sistemas temos “ecossistemas”: da Microsoft, da
Apple, da Google. Escolha um.
Dito isto, os usuários de PCs esperam que seus aplicativos Windows
rodem como sempre, e querem ter o mesmo nível de controle sobre seus
notebooks e desktops que sempre tiveram. Novos recursos de software
devem permitir que os usuários façam mais com suas máquinas. E como a
reação ao finado Windows Vista demonstrou, enfeites e firulas não devem
prejudicar o desempenho da máquina, ou exigir novo hardware.
Conseguirá o Windows 8 atingir seu objetivo de ser um aspecto de um
novo ecossistema da Microsoft enquanto mantém suas raízes no PC? Poderão
os computadores atuais rodar o Windows 8 sem a necessidade de caros
monitores sensíveis ao toque? Irá a nova interface afastar os usuários
atuais, ou atraí-los para o ecossistema? Tentarei responder a estas e
outras questões neste mergulho até as profundezas do Windows 8.
Este review foi escrito tendo como base a versão RTM (Release to
Manufacturing) do Windows 8, que deve ser idêntica à que chega às lojas e
novos PCs em 26 de Outubro. Rodamos o sistema em um PC razoavelmente
poderoso, com um monitor comum (sem touch), teclado e mouse. Também
usamos um ultrabook Samsung Series 9, equipado com um trackpad da Elan que tem total suporte a gestos multitoque.
A interface
O Windows 8 tenta fazer você ligar seu login no sistema a uma conta
Microsoft. Isso é opcional, mas permite que você use seu login e senha
do Messenger ou Outlook.com como login e senha do sistema, além de
permitir uma melhor integração com recursos online.
Por exemplo, você pode pedir para o sistema salvar “na nuvem” suas
preferências (imagem associada à conta, lista de apps instalados, fundo
da tela Iniciar e da lockscreen, configuração do programa de e-mail,
etc) e elas serão automaticamente restauradas em um novo PC quando você
fizer o login, facilitando uma migração.
Como mencionei anteriormente, o Windows 8 foi projetado para ser
parte de um ecossistema, junto com o Windows Phone (que também chega à
versão 8 em breve) e o Windows RT. A Microsoft acredita tão fortemente
nessa idéia que transformou a interface antigamente conhecida como
“Metro”, que nasceu no Windows Phone, na interface principal do novo
sistema, mesmo no Desktop.
A nova interface aparece na tela Iniciar, assim que o computador é
ligado. Ela é um substituto do Menu Iniciar, uma das principais
características do Windows desde 1995. Os aplicativos aparecem como
blocos coloridos, que podem ser arrastados com o mouse e reordenados. É
possível procurar por um aplicativo simplesmente digitando os primeiros
caracteres de seu nome: a lista de resultados se reordena
automaticamente à medida em que você digita.
A tela se estende horizontalmente, e basta mover a rodinha do mouse
ou deslizar os dedos da direita para a esquerda sobre o trackpad do
notebook para “rolar” a lista e ver mais apps. Um clique no botão “-”
no canto inferior direito da tela, ou um gesto de pinça com os dedos,
dá acesso a uma visão geral, mostrando todos os blocos de uma só vez.
Mas nem todos os aplicativos (incluindo acessórios do Windows como o
Paint ou o Bloco de Notas) aparecem na tela Iniciar por padrão. Para
acessá-los você deve clicar com o botão direito do mouse sobre uma área
vazia da tela e clicar no botão “Todos os aplicativos” no canto interior
direito dela para acessar a lista Aplicativos. Se quiser que um
aplicativo fique sempre visível, clique com o botão direito do mouse
sobre seu ícone e escolha a opção “Fixar na Tela Inicial”.
Um dos principais recursos da tela Iniciar são os blocos dinâmicos.
Eles são duas vezes mais largos que os blocos normais e mostram
informações atualizadas constantemente, como os widgets em smartphones
Android. O bloco Pessoas, por exemplo, mostra as últimas mensagens de
seus contatos no Twitter ou Facebook. Também há blocos com suas fotos, a
previsão do tempo, as últimas notícias, etc. À medida em que você
instala aplicativos da Microsoft Store, novos blocos dinâmicos irão
aparecer.
O Desktop ainda vive
A Microsoft divide os aplicativos em duas categorias: os apps
“Windows 8”, feitos sob medida para o novo sistema e que rodam sempre em
tela cheia, e os aplicativos desktop, escritos para versões anteriores
do Windows. Entre eles o Microsoft Office.
Sim, apesar da nova interface o Desktop (muito similar ao do Windows
7) ainda existe, embora não seja possível iniciar o sistema
automaticamente nele. A Microsoft quer que a tela Iniciar seja o ponto
de partida para a experiência dos usuários com o Windows 8.
Se tudo o que você precisa é abrir um aplicativo, basta clicar em seu
bloco na tela Iniciar. Mas ações como o gerenciamento de arquivos ou
ajuste de algumas preferências do sistema (como a resolução da tela ou
configurações de rede) exigem uma visita ao Desktop. Para isso, clique
no bloco correspondente na tela Iniciar, ou tecle a combinação
Windows+D.
O Desktop ainda existe, e é muito similar ao do Windows 7
O Desktop se comporta praticamente como no Windows 7, exceto pela
omissão do Menu Iniciar. Em seu lugar há um “Menu Iniciar Simplificado”
que dá acesso a recursos como o Painel de Controle, Gerenciador de
Arquivos e o comando Executar. Para acessá-lo basta teclar Windows+X ou,
enquanto no Desktop, jogar o cursor do mouse no canto inferior esquerdo
da tela e clicar com o botão direito do mouse.
A aparência das janelas mudou: a “transparência” e os cantos em
relevo se foram, substituídos por um visual completamente plano. Em
aplicativos como o Gerenciador de Arquivos se você clicar um dos itens
de um menu, como Arquivo, verá uma “Ribbon” similar à do Office 2010,
que contém em um único local todos os comandos e opções que
anteriormente eram mostrados em uma série de menus e submenus.
Mas no geral o Desktop funciona como nas versões anteriores do Windows. Há uma barra de tarefas e você pode “fixar” programas à ela, alternar entre programas abertos com Alt+Tab, minimizar e maximizar janelas, mudar o papel de parede (embora ele seja independente do fundo da tela Iniciar) e mais. É só uma questão de se acostumar.
A Windows Store
A Microsoft adicionou uma loja de aplicativos ao Windows 8, como as
já existentes no Mac OS X, iOS e Android. Para usá-la você precisa de
uma conta na Microsoft (uma conta do Messenger, Hotmail ou Outlook
serve). O layout é similar ao da tela iniciar, com os apps representados
em blocos divididos em grupos. Cada grupo tem subcategorias como “Os
melhores grátis” e “Novas versões”. Além de aplicativos feitos sob
medida para o Windows 8, a Windows Store também tem aplicativos para o
desktop, e há tanto apps pagos quanto gratuitos.
Para baixar um aplicativo basta clicar sobre o bloco correspondente
para ir à página com sua descrição, e aí clicar no botão Instalar. A
loja também se encarrega de facilitar a atualização dos apps instalados,
avisando (em seu bloco na tela Iniciar) quando há novas versões
disponíveis. Para desinstalar um app basta clicar sobre seu bloco na
tela Iniciar e escolher a opção Desinstalar no rodapé.
Segundo a Microsoft a loja conta atualmente com cerca de 3500 apps,
algo distante dos mais de 10 mil títulos na Mac App Store da Apple.
Desde que iniciamos os testes vimos mais e mais aplicativos sendo
lançados constantemente, mas ainda assim a Microsoft terá que se
esforçar para aumentar o tamanho do catálogo.
Personalizando o Windows
Se você não gosta do jeito como o Windows 8 “sai da caixa” pode
personalizá-lo, embora haja limites. A tela Iniciar é composta de grupos
de blocos que podem ser livremente organizados a seu gosto: basta
arrastá-los com o mouse. Também é possível mudar o tamanho de um bloco,
clicando com o botão direito do mouse sobre ele e escolhendo as opções
Maior ou Menor no rodapé da tela.
Também é possível mudar as imagens de fundo da tela de bloqueio e da
tela Iniciar, mas isso é inconsistente: a imagem da tela de bloqueio
pode ser qualquer uma que você quiser (como nos papéis de parede do
Windows 7), mas na tela Iniciar você está limitado às imagens oferecidas
pela Microsoft. Nesse caso, além da imagem também é possível mudar o
esquema de cores, em uma paleta com 25 opções.
Você pode mudar a imagem de fundo e as cores da tela Iniciar, mas as opções são limitadas |
Também é possível personalizar o Desktop, trocando o papel de parede,
esquema de sons ou a cor da borda das janelas. Infelizmente a
personalização mais requisitada, a capacidade de fazer o sistema iniciar
diretamente no desktop, ignorando a nova tela Iniciar, não está
disponível. Ao menos não sem alguns truques.
Melhorias gráficas
O Windows 8 agora usa a GPU (placa de vídeo) de seu computador para
acelerar o processamento de quase todos os aspectos e efeitos da
interface. Muitos dos subsistemas dependem da API DirectX, que até o
momento é mais usada em jogos. HTML5 e imagens em SVG (imagens
vetoriais) também tiram proveito de uma GPU, na forma de renderização
aprimorada de formas geométricas em 2D.
Os aplicativos dizem ao Direct2D o que desenhar, como círculos e
retângulos, bem como características como cor e estilo. Os aplicativos
convertem estas instruções em um formato adequado para o Direct3D, que
envia os comandos para a GPU. Como resultado, mesmo operações como
arrastar uma janela no desktop tem um ganho substancial de desempenho.
Além disso há uma nova API, chamada DirectText, que “terceiriza” a
renderização de texto para a GPU. Com isso, o desempenho ao exibir texto
em aplicativos escritos para o Windows 8 é o dobro do Windows 7 - às
vezes até mais.
Manutenção facilitada
Se você eventualmente encontrar algum problema que o force a
reinstalar o Windows, ficará feliz em fazer que isso ficou muito mais
fácil. Na verdade, o Windows 8 tem vários níveis de restauração do
sistema.
A opção “Remover tudo e Reinstalar o Windows” faz o que o nome diz:
devolve seu PC ao estado “de fábrica”, como se tivesse saído da caixa,
com um sistema “zero quilômetro”. Mas sem a necessidade de um DVD de
instalação, número de série ou instalação manual de drivers depois de
instalar o sistema.
Quer recomeçar "do zero"? Clique em Remover tudo e reinstalar o Windows (em destaque) |
Se você prefere algo menos drástico, há a opção Atualizar PC sem
afetar arquivos, que restaura configurações e arquivos de sistema
importantes, mas mantém seus arquivos pessoais e todos os aplicativos
escritos para o Windows 8 que tenham sido instalados. Note que os
aplicativos Desktop não são mantidos, então você terá de reinstalá-los
manualmente.
Hardware e dispositivos
Os requisitos mínimos de sistema para o Windows 8 são os mesmos do
Windows 7, na verdade um pouco menores. Isso significa que ele deve
operar de forma mais eficiente que seu antecessor em máquinas com menor
poder de processamento, como netbooks e nettops equipados com
processadores Intel Atom, que também serão usados em alguns tablets com o
sistema.
Mas o Windows 8 também suporta novo hardware, entre ele dispositivos
sensíveis ao toque, que são tão importantes quanto o mouse e o teclado. O
Windows 8 suporta o que a Microsoft chamada de “10-Point Multitouch”,
ou seja, dez toques simultâneos sobre a superfície (que pode ser uma
tela ou trackpad), incluindo suporte a gestos com múltíplos dedos e até
com as duas mãos.
Em breve chegarão ao mercado os primeiros notebooks equipados com
telas multitoque. E tendo usado brevemente um deles, posso dizer que a
tecnologia facilita a navegação e consumo de mídia casuais. Notebooks
sem telas sensíveis ao toque terão trackpads multitoque com “detecção na
borda”, termo da Microsoft que descreve modelos que são tão sensíveis a
um toque nas bordas quanto no centro. À primeira vista eles funcionam
exatamente como os trackpads nas máquinas com o Windows 7, embora sejam
um pouco maiores, o que reduz a curva de aprendizado dos novos
recursos.
Além dos notebooks tradicionais também veremos novos formatos de portáteis, incluindo máquinas conversíveis com telas que se dobram sobre o teclado ou mesmo telas destacáveis, capazes de se transformar em verdadeiros tablets.
O risco e a recompensa
O sucesso do Windows 8 irá depender de quão rapidamente os
consumidores irão adotar a nova interface e o hardware usado para tirar
todo proveito dela. Por debaixo dos panos o Windows 8 oferece melhorias
de desempenho, melhor integração com a nuvem, um novo sistema de
recuperação e várias outras pequenas melhorias.
Mas a nova tela Inicial parece ofuscar todo o resto. Embora o próprio
Menu Iniciar tenha causado controvérsia quando lançado no Windows 95, a
tela Iniciar no Windows 8 divide opiniões com intensidade muito maior.
Junte a isso a posição agressiva da Microsoft na venda de apps (a loja
será o único local onde será possível baixar apps otimizadas para o
Windows 8) e a insistência na integração com serviços online, e alguns
usuários provavelmente irão se rebelar.
Você pode amá-lo ou odiá-lo, mas não pode negar que o Windows 8
inicia uma nova era de serviços conectados à nuvem, com uma interface
unificada entre plataformas e uma integração mais robusta com mídia
social. Os usuários mais novos poderão achar o Windows 8 mais atraente
que os veteranos. É um risco que a Microsoft teve de correr para
continuar relevante no mundo móvel e conectado de hoje. Mas só o tempo
dirá se foi a jogada certa na hora certa.
O Windows 8 não é para qualquer um. Se você é principalmente um
usuário de desktop e se sente confortável com o Windows 7, o upgrade
provavelmente não vale a pena. Se você é um usuário “móvel” que precisa
de acesso fácil ao “ecossistema” Microsoft completo, o Windows 8 é
definitivamente uma boa opção. Se suas necessidades estão entre estes
dois extremos, dê uma boa olhada, com calma, no Windows 8. Mas você terá
que estar disposto a aprender a lidar com a nova interface, e se
certificar de que seu software e hardware já existentes são compatíveis com o novo sistema.
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